quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

O último lobisomem

À casa do pastor Cancela, vinha, às vezes, um lobisomem em forma de reixelo (bode), que perturbava a sua tranquilidade, pondo os animais em sobressaltos e causando prejuízos.
O Cancela, que era um homem decidido e pouco para medos, escondeu-se, uma noite, entre o centeio, com um cutelo, e esperou até o reixelo chegar. Quando este veio e passou aos saltos perto dele, atirou-lhe o cutelo com tal força, que o chão no dia seguinte estava tinto de sangue; mas nem vestígios do reixelo nem do cutelo. O Cancela procurou e matutou no caso, durante muito tempo, mas por fim desistiu e esqueceu-se do sucedido.
Passados tempos, o Cancela foi comprar reses por outras terras e, na casa de um negociante de gado, viu um cutelo igual ao seu, o que o espantou bastante, pelo que perguntou ao homem, onde é que ele tinha adquirido aquele cutelo. Mas o homem não lhe respondeu e convidou-o a comer com ele, indo-se ambos deitar em seguida.
No dia seguinte pela manhã, o homem foi buscar a res (cabras) que o Cancela queria comprar e não quis dinheiro pelos animais, dizendo que lhos dava em paga dele lhe ter quebrado o encanto, pois já não voltava a transformar-se em reixelo depois do Cancela o ter ferido.
Pelo jeito, o lobisomem também andou por aqui, em Terras de Bouro. Hoje, não o temos pelas nossas bandas porque o Cancela, antepassado vigoroso da nossa Terra, “tratou-lhe da saúde”. Esta história, de acordo com Lopes de Oliveira, parece ter sido passada em Vilarinho da Furna.

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