sábado, 20 de fevereiro de 2010

Terras de Bouro a caminho da Divisão de Honra

Jorge Maia, actual treinador da Associação Desportiva Terras de Bouro, declara, em entrevista ao “Geresão”, que o sucesso desta época passa pelo trabalho da Direcção e salienta, também, o apoio e o trabalho do Director Desportivo. Afirma, ainda, que este sucesso também se explica pela aposta na formação das camadas jovens e por um plantel com muita “prata da casa”. A si compete-lhe, com rigor e disciplina, liderar uma equipa que luta pela subida à Divisão de Honra.

Hoje, com 53 anos, este terrabourense, natural da freguesia de Chorense, continua a ter duas grandes paixões: uma pelo concelho que o viu nascer e outra pelo futebol. Na sua juventude, o Maia foi um jogador de “encher o olho”. Dotado de muita habilidade e técnica fizeram dele um craque muito pretendido e cobiçado. Jogou no Dumiense, no Vilaverdense, no Sequeirense, no Mikes de Fraião, mas foi “no seu clube do coração” que ao longo de 10 anos defendeu as cores do nosso concelho.
Participou em inúmeros torneios de futebol de salão, nomeadamente, em Paradela, Amares, Vila Verde, S. João do Campo, S. Mateus da Ribeira, Patronato Nossa Senhora da Torre tendo jogado, entre outras, pela freguesia de Chorense e de S. Mateus da Ribeira.
Jorge Maia começa por afirmar ao “Geresão” que para se treinar uma equipa sénior deve-se passar previamente pelas equipas juniores ou juvenis onde se faz uma aprendizagem muito útil. “É nestas camadas que adquirimos as competências para liderar um grupo de 22 jogadores.”
Iniciou a sua carreira de treinador nos Juniores de Terras de Bouro. Treinou também os juvenis e, ainda, os juniores do Caldelas. Mas a sua carreira de treinador sénior inicia-se no Caldelas, na 1.ª Divisão Regional. Depois, seguiram-se a equipa sénior do Bastuço, 2.ª Divisão Regional e o Soarense, 1.ª Divisão Regional.
Na época 2008-09, foi convidado pela Direcção da Associação Desportiva de Terras de Bouro para adjunto do Pinho que era o treinador principal. Aqui, trabalhou durante 4 meses. Na época 2009-10, a convite do Pinho e da Direcção, assume o lugar de treinador principal. Afiança que o Pinho, actual director desportivo, é fundamental na estrutura do clube. “Foi importante que o Pinho se tornasse o director desportivo porque auxilia muito o Presidente e a Direcção do clube.” Para além do director desportivo, considera fundamental, o Presidente, Miguel Rodrigues e, também, Paulo Rodrigues. Este último é um membro da direcção incansável. “Dá muitas e muitas horas de trabalho ao clube. Além de membro da direcção é motorista e roupeiro.”
Sublinha que tem um grupo forte e coeso e que este plantel foi formado por si, pelo Presidente e pelo Director Desportivo. Garante que é um plantel muito equilibrado em todos os sectores e que a Associação Desportiva de Terras de Bouro, nesta época, reduziu ao orçamento e ao número de jogadores. “Na época transacta, tínhamos 22 jogadores. Actualmente, temos apenas 18 atletas porque os juniores podem colmatar uma eventual falha provocada por lesão ou castigo.”
Não esconde a sua satisfação quando afirma que, na primeira volta, nos jogos disputados teve poucas expulsões. Sustenta que, nesta época, não há lugar para a indisciplina. “Não pode haver expulsões. Os jogadores, dentro do campo, só devem preocupar-se em jogar à bola. Tenho dois jogadores no plantel, por exemplo, que na época passada foram expulsos quatro vezes e este ano ainda não viram a cartolina amarela.”
É com muito orgulho que informa à reportagem do “Geresão” que o clube tem cerca de 100 jovens atletas a praticar desporto. “Temos quatro equipas: escolinhas, juniores, juvenis e seniores. Mas hoje em dia os jovens não gostam de futebol como no meu tempo. Actualmente, o Terras de Bouro oferece todas as condições: equipamento, transporte, balneários novos e treinador e, mesmo assim, os nossos jovens faltam aos treinos.” Entristece-o porque muitos dos praticantes têm talento e qualidade, mas perdem-se, infelizmente, para o futebol porque “outros valores falam mais alto”. Considera que há uma crise de formação no seio das famílias. “Os pais têm culpa pela forma como estão a educar os seus filhos. Se o clube proporciona uma forma de vida salutar é pena que a maior parte dos pais não controle os filhos. Faltam regras. Dão-lhes liberdade até às 3 ou 4 horas da manhã. É liberdade a mais! Ainda crianças começam a fumar. Muitos começam a fazê-lo com apenas 11 ou 12 anos. Já me apareceram alguns pais a pedir-me que falasse com os seus filhos. Pediram-me que fosse eu dissuadi-los, a convencê-los a mudar os seus hábitos de vida. Mas nem sempre é fácil consegui-lo. Quando treinava os juniores, alguns deles fugiam-me para fumar. O nosso concelho tem muitos jovens com categoria, mas os pais não têm capacidade para controlar os filhos. Alguns dos nossos jovens fazem o que bem entendem e começam muito cedo a andar com o maço de tabaco no bolso.”
Não pactua com o incumprimento ou a falta de regras. “Para mim, o rigor e a disciplina são fundamentais. Se um jogador falhar tacticamente eu perdoo, mas se for indisciplinado tenho de o chamar à razão. Nisto sou implacável.”
Quer que os nossos jovens sejam grandes homens, no dia de amanhã. Por isso, “um jogador júnior, por exemplo, tem de estar preparado para perder”. Considera importante que para além de jogar futebol o jovem se deve dedique aos estudos. Mas alguns jovens “andam ao Deus dará!” Tem consciência que mesmo as boas famílias têm muitas dificuldades em controlar os filhos. Contudo, se o futebol ajudar a desviar os jovens das drogas e de outros caminhos maus, já é muito positivo. “Os pais não controlam as crianças que levam cada vez mais uma vida sedentária. Infelizmente, não têm hábitos de vida ao ar livre, não passeiam na montanha ou à beira rio. Deviam vir para o futebol porque estão duas a três horas a treinar e isso tirá-los-á do computador.”
Para a sobrevivência do clube, considera fundamental o apoio da Câmara Municipal de Terras de Bouro. Sem ela o clube, certamente, não existiria. “Brevemente, inauguraremos os balneários novos. Se não fosse o apoio da Autarquia, se calhar, o Terras de Bouro acabaria.”
Faltam sócios ao clube da nossa terra. “Quando eu era jogador do Terras de Bouro a bancada enchia-se de centenas de terrabourenses. Actualmente, temos menos assistência talvez por termos menos jogadores da Terra. No entanto, temos 8 jogadores do concelho no plantel sénior. Eu defendo, tal como o Presidente, que a maioria dos jogadores seja de Terras de Bouro para que as gentes da terra se voltem a interessar pelo clube.”
A seguir à família, o futebol é para si a coisa mais importante. Mas, infelizmente, no futebol da Regional, há homens que não gostam de futebol e andam fazer-lhe mal. Chegam a vender-se por um jantar. “Sinto-me impotente para travar este tipo de coisas e esta postura que não se coaduna, de maneira nenhuma, com a minha maneira de ser.”
Destaca a importância do líder que tem de dar a cara sempre. Tanto nos bons como nos maus momentos, “o líder tem de estar sempre com a equipa para tirar partido dos jogadores.”
Receia os factores extra-futebol porque “um árbitro habilidoso se quiser derrota-nos. Nesta época, a única derrota que sofremos foi num jogo em que a arbitragem foi muito infeliz. No entanto, com o grupo que tenho, espero subir à Divisão de Honra. É aí, de facto, o nosso lugar e se subirmos, como espero, a projecção do nosso concelho será bem maior.”
Jorge Maia apela aos jovens que “nunca descurem as actividades escolares e que pratiquem desporto, se não for futebol que seja outro desporto qualquer.” Aos terrabourenses pede-lhes que acompanhem mais o clube da terra porque este “tem muitas alegrias para lhes dar”.
Entretanto, convida os terrabourenses a vir ao futebol para passarem uma tarde bem agradável no campo municipal.

Publicado no jornal "Geresão" em 20 Fevereiro de 2010.

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