segunda-feira, 19 de abril de 2010

AFURNA – Associação dos Antigos Habitantes de Vilarinho da Furna

VILARINHO DA FURNA PARA UM PROJECTO DE TURISMO SUSTENTÁVEL

Resumo
Vilarinho da Furna era uma das últimas e mais típicas aldeias comunitárias
da Europa. Até que a construção de uma barragem, que dá pelo nome da antiga aldeia, pôs termo à sua existência, no princípio dos anos setenta. E os seus moradores foram, então, dispersos pelas mais variadas paragens dos concelhos de Braga, Viana do Castelo, Ponte da Barca, Barcelos, Vieira do Minho, Terras de Bouro, etc., etc., onde refizeram as suas vidas, nas mais adversas circunstâncias.
Os anos passaram, e, hoje, esses mesmas pessoas estão organizadas n'AFURNA - Associação dos Antigos Habitantes de Vilarinho da Furna -, que tem por objectivo a defesa, valorização e promoção do património cultural, colectivo e/ou comunitário do antigo povo de Vilarinho.
O património comunitário de Vilarinho da Furna situa-se na zona raiana do concelho de Terras de Bouro, um dos concelhos mais extensos de Portugal e menos densamente povoados.
Esse património é, fundamentalmente, constituído pelas componentes histórico-cultural e socio-económica. Daí as tarefas e/ou acções a desenvolver nas áreas da cultura, da formação, da investigação científica e do desenvolvimento económico--social. O que trará consigo, além do mais, a criação de um pólo de desenvolvimento regional, com incalculáveis benefícios para o próprio país.

Vilarinho antes da barragem

1. Apresentação
Vilarinho da Furna, situada entre as Serras da Amarela e do Gerês, vizinha da Galiza, era uma das últimas e mais típicas aldeias comunitárias da Europa. Até que a construção de uma barragem, que dá pelo nome da antiga aldeia, pôs termo à sua existência, no princípio dos anos setenta, do século passado. E os seus moradores foram então dispersos pelas mais variadas paragens dos concelhos de Braga, Viana do Castelo, Ponte da Barca, Barcelos, Vieira do Minho, Terras de Bouro, etc., etc., onde refizeram as suas vidas, nas mais adversas circunstâncias.
Os anos passaram e, hoje, essa gente está organizada n'AFURNA - Associação dos Antigos Habitantes de Vilarinho da Furna, que tem por objectivo a defesa, valorização e promoção do património cultural, colectivo e/ou comunitário do antigo povo de Vilarinho.
O património comunitário de Vilarinho da Furna situa-se na zona raiana do concelho de Terras de Bouro, um dos concelhos mais extensos de Portugal e menos densamente povoados, devido aos movimentos migratórios das suas populações, ora em busca de recursos económicos que as estruturas locais não possibilitam, ora compulsivamente afastadas das suas terras, como aconteceu no Vilar da Veiga e em Vilarinho da Furna.
Esse património‚ é fundamentalmente constituído pelas componentes histórico-cultural e sócio-económica. Daí as tarefas e/ou acções a desenvolver nas áreas da cultura, da formação, da investigação científica e do desenvolvimento económico-social. O que trará consigo, além do mais, a criação de um pólo de desenvolvimento regional, com incalculáveis benefícios para o próprio país.

2. Acção Cultural e Científica
A aproximação do termo da construção da barragem, nos fins dos anos sessenta, do século passado, levou-me a estabelecer um programa de salvaguarda do seu património cultural, já então mundialmente conhecido. Daí surgiu a ideia da construção do Museu Etnográfico de Vilarinho da Furna. Vários anos se passaram e o Museu, feito com pedras da aldeia submersa, está finalmente construído, pela Câmara Municipal de Terras de Bouro, segundo projecto do saudoso Arq. João Rosado Correia, a escassos quilómetros da antiga povoação de Vilarinho. A inauguração do edifício foi feita por S. Exª o Sr. Primeiro Ministro, Prof. Dr. Cavaco Silva, em 14 de Maio de 1989.
Nesse Museu se pretende, principalmente, documentar a vida de Vilarinho da Furna, nas suas semelhanças e diferenças com a dos outros povos da região. E fazer dele um Centro Cultural polivalente, com as necessárias infra-estruturas para o desenvolvimento cultural e científico, ao serviço das populações da região em que se insere. O que implica, antes de mais, o equipamento do próprio Museu.
Dado o estado em que a generalidade dos materiais etnográficos se encontra, devido às deficientes condições em que estiveram antes, durante cerca de 20 anos, é necessário proceder, ao tratamento e/ou restauro das colecções existentes. O que implicará um tratamento local, nos casos em que isso for possível, ou um tratamento em laboratórios da especialidade.
Além da exposição permanente, deverão ser organizadas no Museu exposições temporárias, quer com as espécies do próprio Museu, quer com outras peças etnográficas e/ou obras de arte. E, para possibilitar a investigação, terá de haver uma Biblioteca e Centro de Documentação, com os indispensáveis Meios Audiovisuais.
Como nas instalações do Museu vão funcionar a sede d'AFURNA e um Bar etnográfico, que fomentará a gastronomia regional, prevê-se também o respectivo equipamento.
Uma vez completada essa primeira fase, deverá proceder-se a uma ampliação das colecções existentes, com novas recolhas a ser levadas a efeito entre os antigos habitantes de Vilarinho da Furna e em todas as povoações do concelho de Terras de Bouro.
Nas dependências do Museu, em Pavilhões a construir, poderão funcionar Escolas de Artesanato local e de Formação Técnicoprofissional. Por outro lado, há necessidade de continuar a estudar cientificamente a documentação etnográfica existente, bem como avançar com a pesquisa arqueológica, histórica, económica, biológica, demográfica, etc., da região.
Dada a localização do Museu junto à célebre Estrada da Jeira, já declarada Monumento Nacional, com as linhas de defesa da fronteira nas redondezes e a submersa aldeia de Vilarinho da Furna transformada em Museu Subaquático, estão reunidas as condições ideais para um espaço museal aberto, com inestimável interesse histórico-turístico-cultural.
E, com a organização regular de palestras, colóquios, seminários, congressos, far-se-á do Museu Etnográfico de Vilarinho da Furna uma verdadeira instituição´cultural e científica,ao serviço da sociedade em que se insere, nesta zona que bem carece de fomentar um coerente desenvolvimento regional, ao serviço das populações que aí habitam.

3. Acção Económica
Apesar de fortemente afectado com a barragem, o património de Vilarinho da Furna ainda conta com cerca de 3000 hectares de terrenos, dispersos pelas serras da Amarela e do Gerês. São terrenos comunitários que, devido às lutas contra as investidas dos Serviços Florestais, desde finais dos século XIX, acabaram por se transformar numa propriedade privada dos descendentes dos outorgantes, naturais de Vilarinho, que constam de uma escritura de aforamento dos respectivos terrenos, feita pela Câmara Municipal de Terras de Bouro em 17 de Agosto de 1895.
Neste momento, é preocupação dos antigos moradores de Vilarinho da Furna proceder a um aproveitamento integral desse património. Para o que se prevê:
- A reflorestação dos referidos terrenos sitos nas serras Amarela e Gerês;
- A criação de uma reserva faunística;
- A criação de um Parque Eólico;
- A criação de um Museu Subaquático;
- A promoção de um aproveitamento turístico que defenda e valorize o património ecológico existente.

A reflorestação da serra considera-se uma tarefa prioritária. De facto, além de ter uma escassa cobertura vegetal, está constantemente sujeita a fogos e a uma intensa erosão. Por isso se prevê, além da plantação com espécies nativas, a criação de infra-estruturas adequadas, a limpeza e vigilância sistemáticas.
A par da reflorestação, procurar-se-á criar condições para um natural desenvolvimento das espécies faunísticas típicas da região, a partir da reconstituição dos seus habitats . Nomeadamente para protecção e desenvolvimento do javali, do corço, espécie já muito rara no nosso país, da raposa, do texugo, do gato bravo, da perdiz, da águia real, entre outras.
Dentro dessa área, pretende-se também fazer a criação, selecção e apuramento do garrano ibérico, raça cavalar primitiva, em risco de perder a sua pureza devido a uma miscigenação com outras raças de cavalos que proliferam na região. O garrano, provavelmente cá introduzido pelos Búrios no século V da nossa era, perfeitamente adaptado às condições agrestes da região, é um valor genético nacional que urge preservar.
Esta região montanhosa, revestida de uma flora apropriada, com várias espécies melíferas, constitui uma zona de excelência para a apicultura. O fomento da apicultura, baseado em métodos modernos, em que as colmeias substituirão os velhos cortiços, constituirá uma importante fonte de rendimentos, de colocação garantida junto dos turistas que durante quase todo o ano afluirão à região, se nela encontrarem condições.
Toda a área em questão, a preservar como reserva turística e ecológica, tem de ser defendida de elementos perturbadores, como os caçadores furtivos e o campismo selvagem.
Para evitar o campismo selvagem, serão aproveitadas infra-estruturas já existentes na região. E os turistas deslocar-se-ão pela serra, em passeios a pé ou a cavalo, com ou sem guias. Os percursos serão convenientemente estudados, e divulgados os itinerários mais interessantes e recomendáveis.
Para os turistas que fizerem maiores deslocações, haverá abrigos de montanha, devidamente sinalizados, onde será possível pernoitar, perfeitamente integrados na paisagem e fiéis aos tipos de construção originária dos povos da região.
Poderá ser necessário estabelecer zonas de reserva integral, onde será completamente vedado o acesso de pessoas, para que não se perturbem as espécies e habitats que careçam de maior tranquilidade.
A reserva terá que ser provida do número de guardas e guias necessários para o seu bom funcionamento, tanto durante a época de mais intensa utilização (fim da Primavera a princípio do Outono), como durante o resto do ano, protegendo a área dos caçadores e intrusos, e fiscalizando toda a zona.

Nos terrenos vizinhos de S. João do Campo, em ligação com os terrenos de Vilarinho sitos na Serra do Gerês, há condições excelentes para o desenvolvimento da pastorícia de gado bovino, ovino e caprino, além de outras espécies domésticas. O que, aliado à agricultura regional, e à pesca de truta na al- bufeira de Vilarinho, permitirá o desenvolvimento do gastronomia da região.
O artesanato local, para o que já existe uma oficina na vizinha aldeia de Covide, que, em tempos, já funcionou na dependência do Museu Etnográfico de Vilarinho da Furna, já tem a sua procura, o que garante alguns postos de trabalho.
Por tudo isso, estamos em crer que o conhecimento e divulgação do mundo rural desta região trará a sua promoção, levando os habitantes a
conservarem os seus valores culturais, ao mesmo tempo que incentivará as populações locais a permanecerem na região, quando aí puderem encontrar postos
de trabalho minimamente condignos. A melhoria das condições económicas acarretará a melhoria das condições de vida.
A implementação deste projecto, nas suas diversas componentes, reveste-se de singular interesse. De facto, trata-se de um projecto integrado, com potencialidades para transformar esta zona num importante pólo de desenvolvimento regional sustentável, com inestimáveis benefícios, não apenas para as populações aí residentes, mas para o próprio país, com inegáveis repercussões internacionais.

4. À Guisa de Conclusão
O meio rural, com o seu tradicional modo de vida, está hoje seriamente ameaçado por todo a Europa. A destruição, pura e simples, da aldeia comunitária de Vilarinho da Furna é disso um exemplo típico. Mas parte do seu património conseguiu sobreviver. É esse mesmo património que nos propomos salvaguardar e valorizar. Protegendo a natureza, desenvolvendo a cultura e a ciência, criando postos de trabalho, melhorando as condições de vida das populações locais. No interesse do nosso povo. Para benefício do país.


Autor: Dr. Manuel de Azevedo Antunes

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