sexta-feira, 28 de maio de 2010

Parque transfronteiriço do Gerês/Xurês classificado como reserva da biosfera



O parque transfronteiriço do Gerês/Xurês foi classificado como uma reserva da biosfera. Os governos de Portugal e Espanha receberam no passado sábado, Dia Internacional da Biodiversidade, o respectivo diploma da UNESCO, numa cerimónia que decorreu em Ourense, Espanha.
No âmbito desta jornada, a ministra do Ambiente, Dulce Pássaro, reconheceu que, relativamente à legislação em vigor para travar a perda da biodiversidade, nomeadamente a diretiva Aves e a diretiva Habitats, "o que foi feito não foi suficiente".
"Os objetivos definidos a nível comunitário não foram atingidos em 2010. O que se tem estado a discutir em Bruxelas é estabelecer-se um sistema de objectivos quantitativos e de indicadores de avaliação. Em vez de como até aqui haver recomendações, haver obrigação de fazer demarcação de áreas e identificação de sítios, vamos adoptar métodos mais facilmente avaliáveis", sustentou a governante.
No que respeita a possíveis constrangimentos provocados pela crise económica, Dulce Pássaro afirmou que algumas iniciativas previstas serão comprometidas, mas essencialmente no que respeita à realização de alguns estudos.
"Relativamente a projectos candidatos a fundos comunitários, que têm que ter contrapartida nacional assegurada pela componente de investimento do Orçamento de Estado, nós aí não temos previsto alterar nada, consideramos prioritário o investimento", especificou.
Para Dulce Pássaro, a sensibilização da população em geral sobre as questões da biodiversidade é fundamental e um dos grandes desafios para o futuro e sobretudo para este ano.
"O grande desafio está nas questões da biodiversidade passarem para o discurso e para a área de preocupação dos cidadãos. Não podem ser geridas pela comunidade técnica. As pessoas têm que entender que ao preservar a biodiversidade estão a preservar um bem público e a preservação das espécies no futuro", disse ainda a governante.

Conservação "relegada para segundo plano"
A conservação da natureza é "relegada para segundo plano" quando é necessário definir prioridades face a outras áreas, como a construção de infraestruturas. As queixas são das associações ambientalistas.
A propósito do Dia Internacional da Biodiversidade, a presidente da Quercus, Susana Fonseca, disse à agência Lusa que "a conservação da natureza é sempre aquela área que é relegada para segundo plano". Aliás, "temos a sensação que a biodiversidade é o parente pobre do ambiente, embora não haja parentes riscos em termos ambientais", acrescentou.
Susana Fonseca referiu que "sempre que é construída uma infraestrutura, sempre que se quer alterar qualquer coisa e isso implica com a conservação da natureza, é rara a situação em que esta leva a melhor. É sempre considerado que há um superior interesse público".
A mesma ideia é partilhada pelo vice-presidente da Liga para a Protecção da Natureza (LPN), Carlos Teixeira, ao defender que, "de uma forma geral, o objectivo de médio-longo prazo de conservar a biodiversidade não recebe a mesma prioridade que outros objectivos mais imediatos que têm a ver com o aumento da coesão territorial, através da construção de infra-estruturas rodoviárias", por exemplo.
A biodiversidade continua em declínio e não é fácil travá-lo devido à escassez de recursos e às dificuldades enfrentadas, por exemplo, "quando políticas de conservação colidem com políticas de obras públicas", frisou.
A União Europeia reconheceu que não iria cumprir a meta definida para 2010 de travar a perda da biodiversidade e adiou este objectivo.
Como salientou Susana Fonseca, "acabou por não ser possível afectar os recursos necessários para estudar o estado em que estão as espécies e os factores de pressão para perceber o que há que melhorar".
"Não há a integração de uma cultura de respeito e de reconhecimento da importância da biodiversidade. É muito difícil para as pessoas perceberem por que é importante" manter a biodiversidade, referiu também.
Assim, é necessário - defendeu - dar mais informação para que se perceba por que razão é preciso manter o equilíbrio ambiental. É que a biodiversidade é necessária, por exemplo, para ter água limpa, para poder ter ar mais limpo e para ter solo em condições de produzir o que é necessário para a sobrevivência do ser humano.
Carlos Teixeira fez questão de frisar: a biodiversidade "tem um alto valor estético, mas também é algo de que dependemos".
Manter a comunicação com todos é um ponto relevante, mas a presidente da Quercus defendeu que também seria "importante que as autoridades que é suposto salvaguardarem este bem comum o fizessem".
Dirigentes políticos e empresariais deviam ser capacitados para perceberem a importância da conservação da natureza e comunicarem às pessoas que a biodiversidade pode ser um factor de desenvolvimento sócio-económico, defendem as associações ambientalistas.
Fonte: Jornal "Terras do Homem", em 26 de Maio (texto e foto)

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