quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Horácio Sousa, Presidente da Junta de Freguesia de Souto, em entrevista ao Terras do Homem

"Há que rever o PDM para evitar o progresso da desertificação na freguesia e no concelho"
Horácio Sousa tem 62 anos e é aposentado. Casado e com dois filhos, o presidente da Junta de Freguesia de Souto – que possui o 6º ano, feito há algumas décadas no seminário – confessa-se um amante do campo, dedicando grande parte dos seus tempos livres ao cultivo da sua pequena exploração agrícola. À mesa privilegia "um bom cabrito assado", acompanhado por um vinho verde tinto da região. Como destino de férias de sonho, Horácio Sousa escolhe a ilha da Madeira, apontando também a ilha espanhola de Palma de Maiorca como um local paradisíaco.É um daqueles presidentes de Junta que já sabe que não será reeleito para as mesmas funções dentro de três anos, aquando de novas eleições autárquicas.
Horácio Sousa cumpre o 13º ano enquanto presidente da Junta de Freguesia de Souto, em Terras de Bouro. Novamente eleito pelas cores sociais-democratas, este autarca aponta as questões ligadas com o saneamento como as de mais urgente resolução para a sua freguesia. A desertificação do concelho – aliás característica que afecta todo o concelho terrabourense – é outro dos temas que lhe merece destaque, bem como o desejo de transformar a antiga escola primária num Centro de Dia que servisse toda a população. Para trás, garante ter "deixado muita obra feita", no seu entender facto provado pelas duas maiorias conseguidas nos dois últimos mandatos.

TH: No seu entender, qual a grande prioridade, até final do presente mandato, para a freguesia de Souto?
HS: Sem dúvida que a grande prioridade passa pela instalação de uma eficaz rede de saneamento em toda a freguesia, seguindo, aliás, o desejo do próprio município para todo o concelho de Terras de Bouro.
No nosso caso, os lugares de Sá, Pardeeiro, Quintães e Paços, já têm a rede em baixa instalada, faltando a ligação a uma rede comum.
TH: Que outros empreendimentos gostaria de ver concluídos até 2013?
HS: Há, desde logo, uma questão que há muito ocupa os nossos desejos, mas que é de difícil alcance e que se prende com a antiga escola primária da freguesia. Encerrada que está para o ensino, gostávamos de ver aí instalado um Centro de Dia para a população de Souto. No entanto, depois de feito o estudo quanto ao custo que tal obra envolveria, achamos que será muito difícil conseguir materializar esse desejo a curto prazo. Ainda surgiu a hipótese de realizar parcerias com a Câmara Municipal e a Segurança Social, mas só os custos de manutenção do espaço, depois de aberto, rondariam os 12 mil euros por mês, o que é incomportável para nós.
Além disso, há uma série de caminhos espalhados pela freguesia, ainda em calçada à portuguesa, que gostaríamos de ver alcatroados antes de sairmos. Isto porque os caminhos em calçada começam a ficar bastante irregulares.
TH: Quer o saneamento, quer o alcatroamento dessas ruas, dependem, directamente, da Câmara Municipal de Terras de Bouro. Acredita que até final do mandato poderá ver essas duas obras executadas?
HS: Duvido. A própria autarquia afirma que até 2013 quer ver instalada toda a rede de saneamento em baixa. No entanto, face às limitações financeiras que afectam o município não acredito que tal seja possível. No que diz respeito ao alcatroamento, poderá verificar-se numa ou noutra rua, mas não na totalidade do concelho.
TH: Quais as obras que deixa à freguesia que mais o orgulham?
HS: Houve várias obras feitas ao longo destes anos, que me enchem de orgulho. Aliás, se for por esse concelho fora, não falta quem diga que Souto é das poucas freguesias onde se vai fazendo obra. Tivemos a construção de uma Capela Mortuária, o alargamento do cemitério, o arranjo de muitos caminhos – hoje em dia não há uma única casa sem acesso automóvel – , um posto de artesanato, um reforço da iluminação um pouco por toda a freguesia. Além disso, arrancámos com este polidesportivo que, até agora, já consumiu 130 mil euros e para a conclusão do qual esperamos a restante receita, para dar os últimos acabamentos. Trata-se de um polidesportivo moderno, com todas as condições para a prática de várias modalidades.

TH: Sendo Terras de Bouro um concelho muito afectado pela crescente desertificação, Souto vive também os reflexos desses problemas?
HS: Sim, claramente. Actualmente, das mais de 280 habitações que cá existem, apenas cerca de 200 serão habitadas. A grande maioria emigrou ou procurou outras zonas do país que lhes oferecessem outras condições de vida.
TH: Que soluções encontra para travar esse flagelo?
HS: No meu entender, a correcção dessa desertificação só poderá ser conseguida através da revisão do Plano Director Municipal. Há muita gente que foge da freguesia porque não consegue construir por aqui. Conheço muita gente que gostava de construir aqui e não conseguem porque os seus terrenos se encontram em Reserva Agrícola ou Reserva Ecológica.

Compromissos profissionais limitam jovens
TH: Concorda com a lei que limita os mandatos dos presidentes de Junta?
HS: Concordo. Se calhar alargava esse período a quatro mandatos, porque penso ser o tempo mais adequado à elaboração e colocação em prática de um projecto coerente, mas concordo com o princípio em si. Aliás, acho até que devia ser alargado a deputados, ministros, entre outros.
TH: Como é que se sente ao saber que este é o último mandato enquanto presidente da Junta de Freguesia?
HS: Saio com a consciência tranquila e com o sentimento de dever cumprido. Acho que fiz tudo aquilo que me foi possível fazer.
TH: Sendo um homem aposentando, não irá sentir saudades da vida autárquica?
HS: Não, porque felizmente tenho outras ocupações. Apesar do cargo de presidente de Junta ser um cargo que nos rouba muitas horas – porque ninguém é presidente de junta apenas dentro do gabinete – também me dedico à Associação desta freguesia, ao Centro Social e ao cultivo dos meus campos.
TH: Antevê já algum perfil para a sua sucessão?
HS: Não quero estar a desvendar figuras, mas acredito que, a seu tempo, aparecerão pessoas capazes de mostrar um bom projecto e realizar um bom trabalho. Temos jovens, nesta freguesia, com muito valor, mas que infelizmente se vêem algo limitados pelos seus compromissos profissionais.

As freguesias mais pequenas devem unir-se
TH: Há quem defenda que, perante a forte dependência face às Câmaras Municipais, as Juntas de Freguesia são um órgão autárquico com pouca razão de existência. Concorda com essa ideia?
HS: As juntas de Freguesia devem continuar a existir e a manter a sua autenticidade, por muito que se vejam privadas de capacidade financeira para executar obras no seu território. No entanto, penso que as mais pequenas se devem unir, em Associações de Freguesias, para ganharem outra força reivindicativa e se conseguirem dinamizar de uma outra forma.
TH: Se fosse presidente da Câmara, qual a medida que tomaria em primeiro lugar para desenvolver o concelho de Terras de Bouro?
HS: Apostaria forte em três áreas. Em termos de obras urgentes, lutaria pela instalação de uma eficiente rede de saneamento básico em todo o concelho. Depois reveria o PDM, por forma a evitar o aumento da desertificação, e traçaria uma eficaz política direccionada para a exploração do Turismo.
TH: E se fosse primeiro-ministro, como melhor este país que, à semelhança da Europa, se encontra mergulhado numa teimosa crise?
HS: Se calhar começava por fiscalizar melhor a área das contribuições sociais. Eu, por exemplo, quando sei que existem pessoas aqui que usufruem de alguma contribuição social, recruto-os para trabalharem para a Junta de Freguesia, ao abrigo do programa que me dá essa possibilidade.
No entanto, não seria fácil levantar o país. Estamos numa situação muito complicada e esta crise estará para ficar por mais alguns anos. Não entendo é como é que, ainda, há quem viva muito para além das suas reais possibilidades.
Fonte: Terras do Homem, em 16-09-2010

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