terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Covide em Poemas

Postamos texto de recensão à obra Covide em Poemas da autoria de Paulo de António Carvalho da Silva publicado no jornal “Geresão”.
O nosso mundo visto pelo olhar de um poeta
Minha aldeia é todo o mundo.
Todo o mundo me pertence.
Aqui me encontro e confundo
Com gente de todo o mundo
Que a todo o mundo pertence.
António Gedeão, Teatro do Mundo, 1958

Dado a conhecer em 2010 em Terras de Bouro, este livro de Belarmino Paulo é constituído por 15 poemas simples e de forma livre, quase todos eles evocativos das experiências de vida e dos percursos geográficos vividos ou repensados pelo seu autor.
Esta obra, que resulta de uma vontade própria a qual se concretizou numa edição do autor, abre com uma nota biográfica e encerra, na página 45, com o curioso poema "Adeus", numa forma metafórica própria de uma despedida da vida:
"Quando Deus formou o mundo
Formou também o Adão
Também eu peço ao Senhor
Que tome leve o meu caixão."

Autor que parece assumir-se de inspiração cristã, nasceu em Covide em 1925, partiu com 20 anos para Lisboa, iniciando-se na indústria hoteleira e cultivando sempre O seu sonho de ser fadista e poeta. Ao longo da sua vida, trabalhou ainda no Algarve, em Moçambique e em Angola, residindo actualmente na sua' terra natal, cercado pela Serra do Gerês.
Sobre os textos que compõem esta amostra lírica, podemos considerar que a sua temática se centra, com particular coesão, ora na descrição dos percursos de vida do homem: "Quadras à volta da vida", p. 5; "Versos para os meus amigos", p. 21; "Versos do meu coração", p. 23; "A poesia da vida", p. 25; "Retalhos da vida", p. 29; "As aves da esperança", p. 33; "A voz de Deus e da terra", p. 35; "Meu avô e meus netos", p. 39; "Caminhos da minha vida", p. 41; ora na narração dos locais por onde a vida foi conduzindo o poeta: "Braga de hoje e de sempre", p. II ; "Lisboa do meu passado", p. 13; "Grandes rios, grandes sonhos", p.15; "Lugares que eu guardei", p.27.

Há, entretanto, alguns poemas que, de forma quase natural, concentram em si essas duas temáticas porque é delas que vive, afinal, o ser do poeta campesino:
"Covide onde eu nasci
Terra de trabalho e tradição
Um cantinho de Portugal
Que trago no coração.
[ ...]
Vi minha mãe de joelhos
Aos pés da Senhora da Abadia
Era uma santa escutando
O que a outra lhe dizia." ("Versos para a minha terra", pp. 17 e 20).
Afinal, este livro de versos, procura, por um lado, resumir os passos da vida de um homem da serra que foi à cidade e, por outro, construir, pela sua poesia, uma simbiose entre os cantos do homem e o canto das aves:
"As andorinhas que partem
Voltam aos seus beirais
Mas a juventude parte
E não volta nunca mais.
Passarinho de doce canto
Se não és meu inimigo
Desce dessa alta árvore
E vem aqui cantar comigo."
"Caminhos da minha vida ", p. 44.
Fonte: Jornal Geresão, em 20-01-2011

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