quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Dia 17 de Setembro: Festa dos poetas populares na Vila do Gerês

Centena e meia de poetas, de norte a sul do país, regressará à vila do Gerês, naquela que já pode designar-se pela Festa dos Poetas Populares. Esse dia é no terceiro Sábado deste mês: 17.
No penúltimo Suplemento Cultural do Diário do Minho, José Gama assina uma oportuna reflexão sobre o papel da Filosofia e da Poesia relativamente ao pensamento de Leonardo Coimbra. Para este pensador do século XX, «o mais sincero e ingénuo documento da alma humana é a arte; mas a poesia portuguesa deve revelar-nos o nosso pensamento metafísico, em acção viva».
José Gama afirmava que Leonardo Coimbra (1883-1975), aproxima o poeta do filósofo, quando invoca a contradição da sensibilidade poética e da alma virgem com a razão colectiva e a alma hereditária e imitativa que fazia, e faz, a angústia metafísica do filósofo e do poeta contemporâneos.
Este docente da UCP (Braga) rebusca esse pretexto no Prefácio da 2ª edição da obra «Regresso ao Paraíso». E chama à liça mais três pensadores da mesma geração: Antero, Junqueiro e Pascoaes, para justificar «a síntese da grande antinomia». Entende Gama que estes três grandes poetas, se realizam no princípio que L. Coimbra sintetiza quando diz que «a poesia portuguesa deve revelar-nos, em acção viva, o nosso pensamento metafísico».Apraz-me dar nota desta evidência, dias depois de me chegarem à mão duas aguarelas de Teixeira de Pascoaes, uma referenciando «o anjo» que serviu de capa à «Espiritualidade poética» nesse autor, em obra de doutoramento de Armindo Mesquita (UTAD). A outra é um desenho obtido pelo Poeta de Marânus, a partir da sua residência em Gatão, procurando a essência dessa maravilha Maronesa. Desconhecia mais essa capacidade artística de Teixeira de Pascoaes que ainda não mereceu o tratamento académico devido. É óbvia na sua pintura, ainda que naíf, ou primitiva moderna, como também se diz, essa inegável vocação artística.
Este preâmbulo leva-me a falar de um fenómeno de cultura popular que já se realiza pelo 11ºano consecutivo, nove dos quais na estância termal do Gerês.
Foi no ano dois mil que o trimensário Poetas e Trovadores deu oportunidade aos poetas, a que Eduardo Prado Coelho chamava: «não escolarizados, não académicos, periféricos» e outros epítetos sinónimos de «menores», em relação aos escolarizados ou àqueles que pertencem ao cânone a que ele pertencia e que lhe permitia menorizar os «provincianos».
A adesão ao encontro regular de quantos escrevem para as gavetas ou que, escrevendo e publicando, não têm acesso aos palcos televisivos, radiofónicos ou jornalísticos, que repercutam a sua voz, foi desde a primeira hora correspondido em presença física e em simpatia generalizada. Aconteceu esse convívio inicial em Guimarães, em Setembro de 2000. Mas o poder político, afeito a uma população rotinada no forte pendor associativo, pois existem no concelho, cerca de três centenas e meia, não soube olhar para esse movimento de intelectuais que ao terceiro ano, recebeu da Câmara de Terras de Bouro e da sua Associação Calidum, o convite para acolherem na vila do Gerês, essa confraternização anual que foi evoluindo, a ponto de ser hoje, a maior manifestação anual de autores. Tendo ou não obra editada, falando português, espanhol, inglês ou francês e usando as virtualidades da versificação, não precisam de mais nada para integrarem esse grupo que tem um elemento comum: o gosto pela poesia. Quando em Maio de 1980, Napoleão Palma, fundou em Lisboa, o mensário Poetas e Trovadores, em formato de revista, já previa o isolamento crescente dos autores periféricos. Quatro anos depois o periódico, mais pobre do que começara, foi retomado pelo gráfico José de Azevedo que o levou até aos confins do país real. Passou a publicar uma antologia anual que dava forma aos mais ousados que pagavam o espaço por eles ocupado, mas em condições acessíveis. A poesia popular regurgitou e alguns nomes vingaram, a ponto de terem merecido do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, a selecção de alguns desses nomes na Antologia da Memória Poética da Guerra Colonial (edições Afrontamento, 2011) e outras em preparação.
Em 1998, por morte do mecenas José de Azevedo que colocou as suas economias pessoais e todo o seu empenhamento ao serviço desses trovadores e poetas, prosseguimos nós a publicação desse órgão que passou a formato de jornal, fixou a periodicidade em trimensal, com 28 páginas e distribuído via postal, a quem o solicitar. Procura dar idêntico espaço a todos os livros que vão chegando à redacção, tal como dá voz aos versejadores, trovadores e poetas, vivam onde viverem, tenham ou não obra editada. Este hábito pouco rigoroso de dar oportunidade publicitária a quem a solicita, criou raízes, institucionalizou-se em todo o país. E, como corolário dessa liberdade de opinião e dessa pluralidade inatacável, temos o Encontro Anual de Poetas na vila Termal do Gerês, no terceiro Sábado de Setembro de cada ano. A Câmara de Terras de Bouro patrocina esse convívio que em média leva a essa vila Minhota, entre 150 a 200 poetas, das diferentes regiões do país.
Decorre, integrado nessa jornada, o concurso da melhor quadra popular sobre o Gerês. E todos os participantes, em moldes originais, têm oportunidade de se apresentar, falando da sua obra e declamando um poema da sua autoria.
A participação é facultativa para todos os poetas, que têm direito ao almoço de trabalho oferecido pela autarquia de Terras de Bouro e a lembranças da organização.
Quem nunca ouviu falar ou quem tiver dúvidas sobre a veracidade do que aqui se diz pode reservar esse dia do terceiro Sábado de Setembro, no auditório Termal do Gerês. Basta manifestar essa vontade através de uma das entidades organizadoras:
Câmara de Terras de Bouro (comunicacao@cm-terrasdebouro.pt ou 253350010);
Calidum, ou poetasetrovadores@mail.pt.
Fonte: Notícias do Douro, em 8-09-2011

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