quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Ranking: as escolas públicas e as escolas privadas

Publicamos texto do terrabourense José Guimarães Antunes, publicado na edição do jornal “Correio do Minho” de hoje.
No dia 15 de Outubro último, com o título «Ranking: cada vez menos escolas com média positiva», a TVI24 referindo-se às escolas onde se realizaram exames nacionais do 9.º ano do ensino básico informava que das dez escolas com melhor desempenho nos exames nacionais de Língua Portuguesa e Matemática, nove eram privadas e apenas uma era pública e que no ano passado a lista era composta apenas por escolas privadas. Informava, ainda, que de entre as dez escolas com pior desempenho nos exames de Língua Portuguesa e Matemática do 9.º ano estavam oito escolas públicas e duas privadas e que seis delas se localizavam no distrito de Lisboa.
Relativamente a esta temática, toda a Comunicação Social procurou enfatizar a dicotomia entre escolas públicas e privadas vincando que nesta listagem as melhores escolas apareciam no topo e as piores no fundo da tabela. Convém esclarecer que o “ranking” do ensino básico é uma lista ordenada de escolas portuguesas, públicas e privadas, mas feita, apenas, com base nos resultados das provas de exame dos alunos do 9.º ano, de Português e de Matemática. Neste “ranking” não se consideram outros indicadores de medida tais como os factores sociais, os territoriais e os recursos. Por isso, o meio económico-social e familiar dos alunos, o absentismo, o risco de abandono escolar e a indisciplina, que não são problemas tão prementes das escolas privadas, não são considerados.
As escolas públicas, contrariamente ao que se possa pensar, empenham-se em promover o sucesso educativo dos seus alunos, mobilizando todos os recursos de que dispõem para apoiar todos aqueles que revelam maior carência socioeconómica, afectiva e de aprendizagem. As escolas públicas procuram o desenvolvimento das competências dos seus alunos num justo equilíbrio entre a instrução e a educação. Para a inclusão e cidadania, em parceria com a Comissão de Protecção de Crianças e Jovens e com a Segurança Social, criam-se turmas PIEF – Programa Integrado de Educação e Formação. Adequam-se currículos e disponibilizam-se turmas de Percursos Curriculares Alternativos - PCA’s. Oferecem-se, também, turmas de Cursos de Educação e Formação – CEF´s. Disponibilizam-se, ainda, tutorias, aulas suplementares e de apoio educativo, suplementos alimentares, entre outros. Educa-se para a cidadania, valorizando-se a formação integral de todos os alunos. De TODOS!
Contudo, convém sublinhar que a propina mensal paga nas escolas privadas é, na maior parte das vezes, superior ao salário de muitos dos pais que têm os filhos nas escolas públicas. Quando não é apenas o rendimento de toda uma família! Com uma única refeição diária servida na escola, fazem-se verdadeiros milagres e vão-se formando cidadãos activos, intervenientes e respeitadores dos princípios e valores de um estado de direito europeu e democrático.
E tê-los na Escola, nós que não seleccionamos os nossos alunos, enche-nos de satisfação e de orgulho. Mas se lhes proporcionarmos melhores condições de segurança, de ensino-aprendizagem, de trabalho e de lazer e se lhes promovermos comportamentos saudáveis, este será sempre um serviço público que nunca caberá nos “ranking’s”.
Com ou sem “ranking” as escolas públicas “boas ou más” continuarão a fazer o acompanhamento necessário aos seus alunos, substituindo-se muitas das vezes às próprias famílias. E numa luta incessante no combate ao absentismo e ao abandono escolar, perseguirão resultados educativos tão importantes na construção da identidade dos nossos jovens.
Entretanto, é tempo de endividar esforços para que sejam integrados nos “ranking’s” a análise de outros indicadores que permitam resultados mais leais e mais justos reveladores do real empenho das escolas públicas.
Quando assim for, poderemos fazer comparações e quem sabe separar definitivamente o trigo do joio.
Fonte: Correio do Minho, em 20-10-2011

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