sexta-feira, 19 de julho de 2013

Férias mais curtas no verão

Os números são claros: a maioria dos portugueses prefere fazer férias no verão. Mesmo sabendo que, à partida, isso implica mais gastos. Aliás, a percentagem de pessoas que tencionam fazer férias entre junho e setembro aumentou de 47%, em 2012, para 50,2%, em 2013. Na região do Vale do Homem, com a crise que se faz sentir, o cenário não é assim tão taxativo, com alguns habitantes a reconhecerem que terão apenas ‘direito’ a alguns dias entre os meses de julho ou agosto, deixando a maior parte dos dias de descanso reversados para outras épocas. Quem também sofre com as fraquezas das carteiras na região são as agências de viagens que, ao contrário do que acontecia nos primeiros anos de crise, este ano têm sentido uma forte quebra na procura. Na região, são cada vez menos os que viajam e, quando o fazem, planeiam tudo atempadamente para evitar gastos de maior. Os destinos internos parecem ser as escolhas mais frequentes em época de aperto de cinto, numa região em que o desemprego afeta as decisões de vários casais em que um dos cônjuges perdeu ou prevê perder o posto de trabalho.
Classe média/baixa viaja “significativamente menos”
O maior sinal da alteração de hábitos na hora de fazer férias, provocada pelo sufoco financeiro em que vive a maior parte da população da região, vem das agências de viagens da região que, este ano, estão com “quebras significativas nas vendas”, quando comparadas as receitas com anos anteriores.
Os meses de junho a setembro são, por norma, responsáveis por “70% da faturação anual” destas empresas, na região. Mais de dois terços das viagens são vendidas para este período.
Este ano, no entanto, “sente-se uma quebra muito significativa na procura da classe média e média/baixa”. Além disso, quando se vende, é apenas para as ilhas espanholas e algarve. Por outro lado, o segmento alto continua a comprar como sempre o fez.
“Para isto também contribui a diminuição dos destinos oferecidos pelos operadores turísticos. Os pacotes já nos chegam feitos e há claramente menos voos. Isso provoca um aumento dos preços, em contraciclo, porque, como sabemos, as pessoas têm cada vez menos dinheiro
Se no ano passado uma viagem de uma semana para Palma de Maiorca, com tudo incluído, podia ser conseguida por 500 euros, agora custa em média 700”, refere Rui Coutinho Diretor da agência de Vila Verde da Best Travel, que assegura que “a classe média sente claramente, neste momento, maior dificuldade em viajar”.
Já Sónia Almeida, funcionária da Agência Órbita, de Amares, concorda que “este ano, a quebra é efetivamente mais acentuada" e até refere que "os clientes andam mais exigentes”. “As pessoas evitam o mês de agosto por ser um mês mais caro, então planeiam tudo atempadamente. Nos outros anos, muitas pessoas compravam em cima da hora, porque não se importavam de pagar um pouco mais e viajar nesses meses, apesar dos preços, em média, subirem 50%”, conta.
Sónia Almeida reconhece também que a “menor oferta provoca um aumento do preço médio das viagens” o que leva as pessoas a virarem-se para a internet e para os voos low-cost. “As pessoas dizem que, financeiramente, não podem e procuram diminuir ao máximo os custos com as férias”, resume.
Férias internas “à procura do repouso” e longes da “azafama”
Consentâneas com as palavras dos agentes de viagens da região, os testemunhos das pessoas do Vale do Homem apontam para umas férias ‘dentro de portas’ e com pouca margem nos meses de julho ou agosto.
O jovem arquiteto vilaverdense, Carlos Machado, por exemplo, assegura que, este ano, só deverá fazer férias “a partir de setembro”. “Profissionalmente dá-me jeito, embora não seja essa uma condicionante. É mais pela conjugação com os interesses da mulher também. Agora, claro que também acaba por ser positivo só tirarmos nessa altura, uma vez que nas férias procurámos descanso e, como tal, o mês de agosto não é o mais propício. Assim, evitamos a azafama e pode ser que o tempo esteja ligeiramente mais fresco”, comenta, reconhecendo que, “tal como na escolha do combustível mais barato”, em épocas de crise “se pudermos poupar mais algum fazendo férias em épocas menos dispendiosas, tanto melhor”. Em termos de destinos a escolher, Carlos Machado ‘vira-se’ para o mercado nacional, uma vez que “pouco” conhece de Portugal, “por dentro”. “Este ano surge essa oportunidade de nos virarmos mais para o que é nosso e vou aproveitar”, conclui.
Por seu turno, Samuel Costa, militar da GNR residente em Valdosende, Terras de Bouro, só irá de férias em outubro, porque casa nessa altura. “De qualquer forma, nos outros anos, também só costumo tirar a partir de setembro uma vez que é um período mais calmo. Se tiro férias é para descansar e ter sossego, não para viver dias de azafama. Este ano, ainda por cima, com o corte dos subsídios e com a minha noiva desempregada, ainda mais complicado se torna. Por isso, em princípio, o resto das férias serão passadas em casa”, admite.
Também João Marques, técnico administrativo natural de Bouro Santa Maria, reconhece que irá descansar “junto da família e dos amigos”, neste caso, no tradicional mês de agosto. “As férias, no meu caso, são algo impostas pela própria empresa. De qualquer forma, como não viajo, uma semana em agosto acaba por ser perfeita para estar com a família que vem do estrageiro”, comenta, lembrando que “por norma” não viaja para fora do país.
Já Paula Pinheiro, natural de Caires e funcionária da empresa amarense Planeta D, refere que “este ano, por motivos profissionais”, vai tirar apenas uma semana em julho. “Depois faço o resto das férias ao longo do ano, aos poucos”, completa. Nessa semana livre, Paula Pinheiro vai aproveitar o regresso de uma irmã que trabalha no estrageiro, para “conhecer alguns cantos a Portugal, sem destino”. Em viagens para fora do país, escolhe, “normalmente, épocas mais baratas”.
Panorama nacional
A realidade geral nacional é, ao que parece, bem diferente da que se verifica na região, pelo menos a acreditar nos resultados do estudo tornado público pelo Instituto Português do Turismo (IPDT). Segundo esses dados, quem decide manter os planos e fazer férias no período compreendido entre junho e setembro terá tudo a que tem direito: férias fora da área de residência (67%). "Pelos dados globais, não há um decréscimo da intenção de fazer férias e há um aumento das férias fora de casa. Há, ainda, uma opção por destinos nacionais e de proximidade, um gasto menor, e a opção por estadas mais curtas", analisa António Jorge Costa presidente do Instituto de Turismo, associação privada que apoia o ensino e a investigação sobre o setor.
Já dos que tiram férias fora desse período, questionados sobre os motivos que os levam a não fazer férias durante a época alta, 31% invocam razões financeiras, mas 24% indicam motivos de trabalho. Outros 24% esclarecem que "não costumam gozar férias" e 23% não têm por hábito escolher estes meses para descansar. O desemprego é a explicação avançada por 10% dos 500 inquiridos pelo IPDT.
Em tempo de contração financeira, 21% dos portugueses que vão de férias este ano planeiam gastar menos, e 69% esperam gastar o mesmo. Entre os que querem despender menos dinheiro, 87% indicam motivos financeiros, 12% o aumento da carga fiscal.
O instituto quis saber também quais os destinos preferidos dos inquiridos que elegem o verão como época por excelência de férias. Dos 67% que não vão estar em casa, 79% escolhem destinos nacionais, com destaque para o Algarve (44%), o Porto e região norte (12%). Cerca de 14% vão viajar pela Europa (Espanha é o país de referência para 7% da amostra), mas 3% ainda não tem destino certo.
Como seria de esperar, é em agosto que a grande maioria prevê passar férias. Alugar casa é a primeira opção (33%), segue-se a casa emprestada por amigos e familiares (17%), percentagem próxima dos que indicam ter casa própria (16%). Apenas 15% escolhem hotéis de quatro e cinco estrelas. Quanto à duração, 82% vão tirar os mesmos dias e apenas 14% dizem gozar férias menos longas. De acordo com o estudo, há indícios de uma redução da duração média da estada, "o que se confirma pela análise deste indicador que em 2011 foi de 14,1 noites e em 2012 de 12,5 noites". Os turistas nacionais deslocam-se acompanhados pela família e amigos.
António Costa diz ainda que portugueses estão mais atentos à Internet e às promoções, optam por férias curtas e ofertas de última hora. Prova disso é a antecedência com que, este ano, reservaram férias. Se em 2013 60% escolheram e marcaram estada em maio, em 2012 apenas 25% o fizeram.
Fonte: Terras do Homem, em 19-07-2013

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